E ele então invadiu minha casa. Não invadiu, perdão, também é duro demais falar isso. Eu o convidei a entrar. E ele limpou os pés, e pediu licença, e disse por favor e obrigado.
E eu o levei até a sala, e na sala ele se sentou de forma bem educada no sofá, e foi completamente educado. E aos poucos colocou os pés em cima do sofá, sem tirar os sapatos. E nesse momento eu pensei tudo bem, vamos relevar, ele parece ser bom apesar disso. E depois disso ele se deitou no sofá, não me dando lugar para sentar.
E então mudei de cômodo e o chamei para a cozinha, e ele pediu, por favor, uma xícara de café. E assim eu preparei o café, do jeitinho que eu gosto. E ele bebeu, e disse que estava muito ruim e não beberia mais. Estava forte demais para o seu gosto. Está bem, eu pensei, não são todos que gostam de café forte.
E o chamei para o meu quarto. E no meu quarto ele entrou e pediu licença para tirar os sapatos, e eu disse claro. E nos deitamos na cama, e na cama nós ficamos. Até a hora que ele disse que a cama era pequena demais, que estava desconfortável estar tão perto de mim, que a temperatura não estava boa, e que nada estava bom.
E talvez nessa hora eu devesse ter mandado ele embora, mas não consegui, não sei porque, mas queria ainda ele ali. Talvez aquilo tudo fosse melhor do que não ter ninguém para reclamar.
E chegou o momento, que ele entrou no cômodo mais importante, e até hoje me pergunto porque o deixei entrar lá. E assim se foi, tudo se foi, ele foi completamente cortês ao entrar, e não reclamou de nada, não tinha nenhuma crítica a nada. Porém ele não foi cuidadoso, e nesse cômodo, ele quebrou, pela primeira vez, o que estava lá, e que não conseguiria repôr.
E ficamos lá olhando, quebrado.
Sem saber o que fazer. Sem saber se aquilo era uma invasão, se foi culpa do convite, se foi culpa minha, ou dele, ou nossa. Mas não importa, agora estava quebrado, e ninguém sabia como consertar.
E quebrado ficou, espatifado no chão, esperando ser varrido, ou para debaixo do tapete, ou para o lixo, de onde não voltaria nem um único caco.
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