Onze horas da amanhã e eu acordo com ele do meu lado. Ele ainda está de olhos fechados, mas eu sei que já está acordado, então eu vou e falo "bom dia" e ele me responde com um beijo. O beijo ainda tem gosto de vinho, sêmen, pau e bunda, da noite passada.
A primeira coisa que pergunto é se ele quer café. "E com canela". Que bom que ele gostou dessa ideia que dei há dias atrás, até porque canela é o que coloco em qualquer coisa, seja pra deixar mais gostoso, ou pra deixar minimamente bebível. Nesse caso é pra deixar ainda mais gostoso, até porque deixar café ruim é uma arte para poucas pessoas, e para todos os restaurantes que oferecem um copinho de café gratuito depois do almoço.
Enquanto o café não fica pronto eu fico pensando em mil coisas do que dissemos noite passada, e ele deitado na cama, sabe-se lá fazendo o que, até porque ele já fez tudo para fazer enquanto eu dormia e ele fingia dormir e rolava na cama por horas sem me acordar.
Eu pensei que começar o dia tomando café por si só já fosse a melhor forma de iniciar qualquer dia, mas então eu aprendi que quando fazia isso com ele poderia ser melhor ainda. Na verdade, tudo eu comecei a descobrir que poderia ser melhor ainda se eu fizesse com ele. Fosse tomar um café para melhorar meu humor pela manhã, ou acordar de mau humor não querendo olhar na cara de ninguém.
Acho que tem algum motivo para eu estar falando tanto de café nesse texto, então tentei traçar uma relação, buscando no meu subconsciente.
Acho que minha vida antes de conhecer ele pode ser comparada aos cafés gratuitos de restaurante: raso, difícil de ser tragado, meio transparente, sem graça, que não te dá energia. E ele seria a canela que eu poderia colocar neles e tornar mais bebível, mais tolerável, e quem sabe até me dar energia, até porque a canela é afrodisíaca, e ele...bom, eu acho que o fato de eu acordar com todos esses gostos na minha boca já diz o suficiente.
Mas nós não precisamos de açúcar, não. Açúcar é o que mascara totalmente o verdadeiro gosto do café, é algo que você coloca para parecer que o café não é café, e sim uma bebida doce para acompanhar seu pão com manteiga pela manhã. Nós não precisamos de açúcar, nós estamos bem sendo o café e a canela, que se complementam e não se apagam, trazendo algo de novo um para o outro.
Depois que bebemos o café e nos beijamos parece que todos os outros gostos sumiram, todas as lembranças da noite passada sumiram, e agora estamos prontos para colocarmos novos sabores na nossa boca, novos momentos um com o outro. Um novo dia, e mais alguns cafés durante ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário