quarta-feira, 22 de maio de 2019

Guerra de travesseiros

E durante muitos anos ele (que nesse caso sou eu, mas usarei a terceira pessoa para não sentir a pressão de falar de mim mesmo, e até porque eu acho que acabaram se tornando pessoas diferentes) viveu um relacionamento, que podemos dizer que era abusivo. Ia pedir calma, porque não foi que alguém tenha sido abusivo, mas sim uma entidade, mas acabei percebendo que é mais perigoso ainda, que coisa né. Acho que esse primeiro parágrafo vai ser apenas de explicações para vocês tentarem entender onde eu quero chegar. Pela primeira vez em muitos anos eu estou conseguindo chegar onde eu quero chegar com certa clareza, então acho importante vocês entenderem isso (se é que alguém lê isso além de mim). Inclusive às vezes me pego lendo textos antigos que colocou aqui e fico sem reconhecer muito bem quem era, engraçado né?
Mas voltando, é, era um relacionamento abusivo, no qual ele acordava com ela ao seu lado, e ouvia ela falar que ele não era capaz, e que ele nunca seria bom o suficiente.
Pera aí, acho injusto eu falar da terceira pessoa, acho que estou forte o suficiente para dizer que essa pessoa era eu, e hoje em dia ainda sou eu, e ainda com ela, mas de uma forma diferente.
Tentativa número três, agora acho que vai: e durante muitos anos eu acordei com ela abraçada ao meu corpo, à minha mente, às minhas respostas fisiológicas. Durante anos ela me fez pensar que o problema era eu mesmo, que tudo aquilo era porque eu era um estranho mimado, medroso e incapaz de lidar com o mundo real. Mas que mundo real era esse sabe? O mundo real que ela me fazia imaginar ser o real, até porque eu estava vivendo no mundo dela, e nunca tinha percebido. Ela me fez acreditar que eu era forte, que eu tinha escolhas, que era independente, que o que eu estava fazendo era para o meu bem, mas na verdade era só todo o plano dela, era a forma como ela agia, para continuar vivendo ao meu lado. Acho que eu entendi o que é um relacionamento abusivo tendo vivido com ela por todos esses anos.
Estranho né? Eu pensava dominar esse assunto logicamente, mas aí percebi que não, eu não sabia de nada, eu só achava o que ela me deixava e fazia achar.
Acho que podemos dizer que cada café que eu tomava ao mesmo tempo era minha pausa dela, para respirar, mas ao mesmo tempo, era forma como ela mais se aproximava de mim, talvez quando o efeito passasse, ou ela me fazia ter essa ilusão de liberdade, me fazendo tomar mais café, e aí me envolver por completo novamente, vindo me abraçar onde quer que eu estivesse: começava segurando minhas mãos, e aí enroscava suas pernas nas minhas, encostava seu peito no meu, e quando eu percebia estava envolvido até a cabeça; acho que posso até dizer que em um certo ponto ela se concentrava inteiramente em cima dos meus ombros e cabeça, o que explicaria minhas eternas dores musculares e enxaquecas.
Isso tudo está saindo agora enquanto eu vou escrevendo, é praticamente a minha terapia via palavras, de coisas que ainda nem falei com minha terapeuta; me desculpa inclusive, Ja, acho que isso era mais algo para eu trabalhar comigo mesmo, mas pode deixar, eu levo muitos outros problemas pra você me ajudar a lidar. Acho que isso tá sendo só um insight, daqueles que você fica me olhando com um leve sorriso enquanto eu concluo e desconcluo mil coisas. Desconcluir existe? Aqui existe, que seja.
Mas então, ela me fez entrar em relacionamento poligâmicos com pessoas de quem ela se alimentasse também. ELA QUERIA SUGAR A ENERGIA DE TODOS, QUE SACO! E conseguiu, infelizmente. Ela sugou meu sono, ela sugou minha energia, ela sugou minha auto confiança, ela até sugou meu amor próprio.
Inclusive uma pausa para eu me parabenizar, porque mês passado eu cheguei a conclusão de que eu me amo, pela primeira vez na vida. Isso não é incrível? Eu acho. Eu só queria me abraçar e ficar de conchinha comigo mesmo e falar eu te amo, e beber um chá, e fazer planos comigo mesmo, e foi isso que eu fiz. Eu me amei, eu ainda me amo.
Mas acho que isso era pra ser a conclusão, puts.
Pois bem, que seja a conclusão e fica por isso mesmo, um texto que sai de algum lugar e vai a lugar nenhum de uma hora pra outra, até porque isso não vai ser publicado numa grande revista, e sim aqui nessa página que tem o mesmo propósito daquele travesseiro que a gente aperta contra nossa boca e grita até ficar rouco, amassa nosso nariz, queima nossa garganta e nossos pulmões. E aí depois a gente vai e deita nesse travesseiro e fica em paz, sabendo que ele guarda nossos maiores segredos, que ele sabe pelo que estamos passando e depois nos dá conforto.
CARACA, SIM!
Nossa, talvez eu deva mudar o nome desse blog para algo que envolva travesseiros, porque eu estou aqui agora, levemente sob efeito de café, muito impressionado com essa comparação.
Ah e sobre o relacionamento: ele ainda existe, e provavelmente vai sempre existir e tentar se alimentar de mim e de quem se aproxima de mim, mas agora eu sei um pouco melhor suas estratégias e estou pronto e preparado para lutar contra. (que brega)

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