domingo, 19 de maio de 2013

6h

Apenas mais uma manhã que ele acordava, tomava seu banho, escovava seu dente, colocava sua calça, tomava seu café, colocava sua camisa e ia para a faculdade. Ele escovava os dentes antes do café pelo simples fato de que gostava de manter o gosto dele na sua boca. Pegou o ônibus como de costume e estava ouvindo sua música enquanto tentava dormir, afinal o caminho de duas horas era longo, diferentemente de sua noite de sono que durou meras 3 horas. Ele já estava com todos os movimentos do ônibus pois fazia aquilo todo dia por 2 anos, mas ele não estava acostumado com o que aconteceu. Alguém se sentou do seu lado, ainda não é essa a parte estranha, e essa pessoa sem querer (ele ainda não sabe se realmente foi sem querer já que estava de olhos fechados) deixou algo quente cair em suas pernas e ele abriu os olhos pronto para gritar até ver um rosto quase que suplicante olhando para ele lhe pedindo desculpa e procurando um lenço dentro da bolsa para limpar aquilo. Enquanto o outro procurava algo em sua bolsa ele não conseguiu deixar de notar sua boca se mexendo, com sua barba por fazer, um pouco grande demais até, por cima dos seus lábios e foi aí que se lembrou que estava com o fone e não entendia nada. O retirou e ouviu o outro dizer algo sobre trânsito, horário, mais pedidos de desculpa "Tudo bem, não se incomode." E então o outro olhou para cima "Como?" "Não tem problema, o que era isso?" "Café" "Eu adoro café" "Acho que ele fica melhor quando está na sua boca e não na sua perna." Então o outro era um comediante, "ótimo" ele pensou "Então pelo jeito eu não tenho nada para limpar isso, me desculpe mais uma vez" "Como eu já disse, não tem problema. Qual o seu nome mesmo?" Ele não sabia de onde havia tirado coragem para aquilo ou o motivo de achar que tinha intimidade para tal pergunta "Uh *****" (desculpem-me, mas não revelarei o nome aqui por motivos de ainda não saber quem eu queria que fosse) "E o seu?" (Todos já sabem o nome do personagem que sempre ilustra as histórias, ou espero que saibam) Ele não sabia mais o que falar após dizer seu nome, só que se arrependia e que o outro deveria achá-lo um idiota ou algo do tipo. "Você faz o que?" Ele não estava esperando que ele desse continuidade, por isso estava até arranhando a ponta do seu dedão e mordendo o lábio (aquela velha mania dele de quando está nervoso) "Estudo, e você?" "Não sei" "Como assim não sabe?" "Até ontem eu estava trabalhando mas então cansei do meu emprego e resolvi desistir, então agora não sei o que faço. Você tem alguma ideia?" "Hmmm....Procurando outro emprego?" "Na verdade estou procurando algo, só não sei o que ainda." "Ah sim" Por mais clichê que pareça foi nesse momento que o ônibus fez uma curva e o celular dele caiu no colo do outro e esse percebeu o fone e perguntou "Que música você está escutando?" "Ah, você não deve conhecer, é uma banda desconhecida que eu amo" "Então me deixa conhecer também" E o outro pegou o fone de ouvido e colocou no ouvido e ficou encarando-o enquanto a música tocava e ele só conseguia olhar para os dentes do outro arranhando a boca como se estivesse analisando o que estavam ouvindo "Muito boa, posso ouvir com você até a hora que um de nós descermos?" "Uhh..é pode." "Obrigado" E então ele resolveu vencer mais uma barreira "Eu posso dar um gole nesse café? O gosto do café que eu tomei mais cedo já está saindo da minha boca" "Éé.. acho que pode sim" E no momento que ele foi pegar o café encostou sua mão na do outro e assim ficou por um tempo até se lembrar que deveria puxar o copo e não o outro "Obrigado" "De nada, se quiser mais é só pedir." A oferta é só para o café? "Tudo bem" E eles continuaram a viagem calados, apenas ouvindo a música até que ele sentiu um peso em seu ombro e quando olhou o outro havia deitado ali e tentava dormir, ou então já estava dormindo, ele não sabia. Ele pensou então que esse era o momento e assim segurou a mão do outro por cima, sem esperar nada em troca, até que o outro virou a mão e segurou a dele com força e deu um sorrisinho de leve como quem dissesse "Está tudo bem, eu também queria isso". Assim eles ficaram o resto do caminho até que o ponto do outro chegou, apenas três pontos antes do dele "Então....é aqui que eu desço, fui muito bom pegar o ônibus com você, até a próxima" E antes que ele pudesse falar, os lábios do outro já estavam no seu e a língua com gosto de café do outro estava na sua boca e suas mãos no seu cabelo. "Éé..tchau... até a próxima?" Então ele não sabe se foi a melhor ou a pior resposta que poderia receber, mas o outro apenas mexeu a cabeça em negação e saiu do ônibus. Pelo menos ele sabia agora o gosto que sua boca tinha todas as manhãs e isso o deixou mais feliz.

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